SoS: CRU - Inspirações

Wilco lança seu novo álbum e você pode baixá-lo grátis!

wilco

A banda americana Wilco, uma das minhas favoritas, lançou na internet nesta quinta-feira (16) o seu novo álbum, Star Wars, . O álbum foi lançado sem nenhum aviso, de surpresa mesmo e o melhor de tudo é que você pode baixá-lo gratuitamente! Para isso, basta cadastrar seu e-mail no site da banda para receber um link para baixar o disco.

Star Wars conta com 11 faixas que somam cerca de 33 minutos. O álbum é o primeiro da banda desde o trabalho de 2011, The Whole Love. Quem estiver interessado em realizar o download de graça deve se apressar, já que ele estará disponível somente por tempo limitado. De qualquer maneira, o disco já está disponível nos principais serviços de streaming, como o Apple Music, o Spotify e Rdio.

“Por que lançar um álbum desta maneira e por que deixá-lo de graça? Bem, a maior razão, e eu não tenho certeza nem se precisamos de outras, é que achamos que seria divertido”, afirmou o vocalista da banda, Jeff Tweedy, na página do Wilco no Facebook. “O que é mais divertido que uma surpresa?”

Tracklist:

01 “EKG
02 “More….”
03 “Random Name Generator”
04 “The Joke Explained”
05 “You Satellite”
06 “Taste The Ceiling”
07 “Pickled Ginger”
08 “Where Do I Begin”
09 “Cold Slope”
10 “King of You”
11 “Magnetized”

Meet Leon Bridges

Esse post é para você que acha que não se faz mais música como antigamente.

Conheça Leon Bridges, um americano de Fort Worth, Texas, de 26 anos, que lançou o seu primeiro disco em 23/06/2015.

Em Coming Home, seu álbum de estréia, Bridges toca Gospel e Soul ao melhor estilo dos anos 60, o que lhe rendeu o título de novo Sam Cooke.

O som e o estilo do cara caíram tanto na graça da crítica e do público que Coming Home chegou a figurar entre as músicas mais virais do Spotify em fevereiro 2015, além de ter sido trilha também do comercial de lançamento do Apple Music.

Senhoras e senhores: conheçam Leon Bridges!

Se você curtiu o som de Leon Bridges e gostaria de ouvir outras banda no estilo, recomendamos Sharon Jones & The Dap Kings, Raphael Saadiq e Alabama Shakes

Pet Sounds Para Sempre!

Essa semana eu fui forçado a ficar de repouso. Quem me conhece sabe o quanto isso é difícil mas eu me concentrei muito e consegui quebrar alguns recordes pessoais que me deixaram muito feliz:

1. Consegui ficar deitado (acordado) por mais de uma hora sem interrupções.

2. Consegui assistir (numa só tacada) um video com mais de 30 minutos no Youtube.

3. Consegui ouvir horas de música sem tirar os fones do ouvido

Mais do que o aspirador que a Maria estava passando na casa (que me motivou a pegar os fones, em primeiro lugar), o que motivou a conseguir fazer tudo (para mim isso é muito mesmo) foi o disco Pet Sounds, dos Beach Boys.

Me lembro como se fosse ontem quando vi Brian Wilson ao vivo em 2004. Foi o show mais emocionante que já fui até hoje.

Lançado em 1966, não só eu, mas inúmeros críticos de música de todo o mundo, consideram um dos discos mais importantes da história da música. Entre os reconhecimentos que o disco recebeu, Pet Sounds foi considerado o melhor disco da história pela revista Time, em 1993 e pela revista Mojo, em 1995, e ficou em segundo na lista dos 500 discos discos mais importantes da história pela revista Rolling Stone, em 2003. Na lista, Pet Sounds só fica atrás de Sgt. Peeper’s Lonely Heart’s Club Band, disco dos Beatles de 1967. Segundo Brian Wilson, principal mente criativa dos Beach Boys, a ideia de fazer Pet Sounds surgiu quando, em 1965, Brian ouviu o disco Rubber Soul, dos Beatles.

Pet Sounds é inspirado em Rubber Soul e Sgt Pepper’s é inspirado em Pet Sounds e, não tenho dúvidas, o mundo ficou mais bonito com tanta inspiração.

Muita coisa pode ser contada sobre Pet Sounds aqui mas acredito que Brian e os músicos que participaram da gravação tem mais propriedade do que eu para falar sobre isso. O vídeo de mais de meia hora que eu assisti no Youtube (ele tem 40 minutos), é justamente esse, e é imperdível!

Alguns outros fatos interessantes não constam desse filme, por isso eu reuni alguns aqui:

1.Um dos primeiros álbums conceituais da história, Pet Sounds transformou o Rock (que até então era uma música para se dançar) em uma música para se ouvir.

2. Em 2004, Pet Sounds foi proclamado patrimônio cultural dos Estados Unidos.

3. Além dos instrumentos básicos usados no rock, e de cordas e sopros, muitos outros sons foram usados na gravação. Entre eles, conseguimos ouvir Teremim, Tímpanos, Vibrafones, Acordeons, buzinas de bicicletas, latidos de cães, e até mesmo garrafas de água e latas de Coca Cola.

4. A produção contou com um budget de US$ 70.000,00 (hoje seriam R$ 510.000,00), um valor jamais gasto em um disco até então.

5. Brian Wilson, responsável pela composição, pelo arranjo e pela produção do disco tinha só 22 anos em 1966.

6. Em 1966, quando o álbum foi lançado, a Capitol Records, gravadora dos Beach Boys, acreditava tão pouco no projeto que lançou no mesmo ano a coletânea “The Best of Beach Boys”, que era composta pelas músicas no estilo praia / escola que fizeram a banda tão famosa na época.

Em 1997 foi lançado o Box Set The Pet Sounds Sessions, que contém a versão original do disco, gravada em mono, e outra remasterizada, em estéreo. Além disso, contém faixas instrumentais, acapella, mixes alternativos além de outras músicas que acabaram não sendo incluídas no disco.

Você pode ouvir o The Pet Sounds Sessions (de fone de ouvido, preferencialmente) aqui:

Bom Sofá!!

Fontes: Rolling StoneMentalFlossWikipediaSongFacts

Você gosta de Coldplay? E de Game Of Thrones?

Na semana passada, a banda Coldplay publicou alguns vídeos de um musical baseado em Game Of Thrones série de grande sucesso da HBO. O vídeo que postamos abaixo mostra a banda liderada por Chris Martin e grande parte do elenco de Game of Trones trabalhando em estúdio.

O projeto visa angariar fundos para o Red Nose Day, uma campanha americana que busca fazer pessoas rirem e se divertirem, para de arrecadar fundos para crianças e jovens vivendo em extrema pobreza. A campanha, que arrecadou mais de US$ 21.000.000,00, culminou com um especial de 3 horas exibido na rede de Tv americana NBC e contou com os principais comediantes americanos, além de estrelas da música e de Hollywood.

Game Of Thrones: The Musical, não passa de uma brincadeira mas, além de contar com a narração de Liam Neeson, tem a banda em uma atuação convincente, atores do cast cantando em atuações não convincentes assim e, acima de tudo, músicas legais e muito divertidas para quem é fã da série. As tiradas no texto e nas letras das músicas são demais!

Participaram da brincadeira os atores Peter Dinklage (Tyrion Lannister), Kit Harington (Jon Snow), Emilia Clarke (Daenerys Targaryen), Mark Addy (Robert Baratheon), Alfie Allen (Theon Greyjoy), John Bradley (Samwell Tarly), Nikolaj Coster-Waldau (Jaime Lannister), Rose Leslie (Ygritte), Iwan Rheon (Ramsay Bolton), Charlotte Hope (Myranda), Thomas Brodie-Sangster (Jojen Reed) e Diana Rigg (Olenna Tyrell), além de Chris Martin e dos demais membros do Coldplay, todos fãs confessos da série.

Abaixo seguem alguns clipes das músicas que foram criadas para o “pseudo” músical!

Você pode saber mais dos projetos do Coldplay aqui, e você pode fazer a sua doação para o Red Nose Day aqui.

Valar Morghulis!!

 

 

70X Bob Marley

Hoje, dia 11 de maio completam 34 anos da morte de Bob Marley. Robert Nesta Marley é um dos meus artistas favoritos de todos os tempos e uma das minhas maiores influências. Me lembro da primeira vez que ouvi Bob em 1989. A música era Buffalo Soldier e o meu amor pelo reggae surgiu instantaneamente e, se não fosse por Bob Marley, tenho certeza que hoje au não seria músico.

Se estivesse vivo, Bob Marley teria completado 70 anos no último dia 06 de fevereiro. Apesar de ter morrido de câncer com apenas 36 anos, o legado musical dele é tão grande que permitiu que eu criasse uma playlist com 70 canções, que contam a história de sua vida.

Para deixar esse playlist mais interessante, procurei agregar informações sobre cada uma das músicas, e dos discos a que elas pertencem. Além disso, a título de ilustração, achei importante escrever uma pequena (pequena mesmo) biografia do cantor.

Robert Nesta Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945 no vilarejo de Nine Miles, perto da cidade de St. Ann, no interior da Jamaica. Filho de uma negra jamaicana (Cedella Booker) com um branco inglês (Norval Marley). Como acontece em muitas histórias, ao saber que sua namorada estava grávida, o Captain Marley (como Norval era conhecido apesar de nunca ter sido militar), se casou com Cedella mas, pouco tempo depois ele foi embora e Bob viria a ter muito pouco contato com o pai.

Com dificuldades financeiras, Cedella e Bob foram tentar a vida em Kingston. Bob passou a sua juventude em Trenchtown (a favela mais famosa de Kingston) e para sobreviver teve, literalmente, que se virar. Discriminado tanto por brancos como por negros por ser mulato, mesmo franzino, aprendeu a malandragem das ruas para ganhar o respeito . Sua reputação nas ruas lhe renderia alguns apelidos como The Skipper (o capitão) e Tuff Gong (apelido a ser explicado depois).

Foi na mesma Trenchtown que, com os amigos Winston McIntosh (Peter Tosh) e Neville Livingstone (Bunny Wailer), no início dos anos 60, que Bob criou os Wailers (banda com a qual o cantor ficou famoso) e se introduziu na cultura rastafari. E foi lá também que Bob conheceu Alfarita Anderson (Rita Marley), com quem se casou em 1966.

bob peter bunny rita

Bunny, Bob, Rita e Peter (da esquerda para a direita)

Em 1972 os Wailers assinam um contrato com a gravadora Island. Nos 9 anos seguintes, o garoto mulato e pobre de Kingston, Jamaica, se transformou no maior rockstar do terceiro mundo. Ao longo de sua vida Bob Marley gravou 13 álbums de estúdio. Entre álbuns de estúdio,  ao vivo e coletâneas os discos de Bob venderam mais de 100 milhões de cópias no mundo inteiro.

Bob Marley morreu de câncer em 11 de maio de 1981 em Miami.

bob

Rastafari Live!!

1. Judge Not: Primeira música gravada por Bob, em 1962, pela gravadora Beverley, de Leslie Kong.

2. One Cup of Coffee: Cover de “I’ll Just Have a Cup Of Coffee (Then I’ll Go)“, de Claude Gray – 1961, e também gravada por Leslie Kong em 1962, a música aparece como sendo interpretada por Bobby Martell (pseudônimo criado por Kong, que, segundo ele, tinha mais apelo do que Bob Marley).

one cup of coffee

3. Simmer Down: gravada por Six Clement “Coxsone” Dodd, no famoso Studio One, a música que conta com os Skatalites de Backing Band, foi o primeiro #1 hit dos Wailing Wailers na Jamaica. Lançada inicialmente como single, Simmer Down viria a ser lançada no album”The Wailing Wailers“, de 1964, do Studio One, depois que os Wailers deixaram a gravadora por falta de pagamento.

4. It Hurts To Be Alone: também gravada por Sir Coxsone em seu Studio One, em 1965, It hurts to be Alone foi arranjada pelo mestre jamaicano da guitarra Ernest Ranglin.

5. Hooligan: clássico da era do ska gravada em 1965, que trata da cultura dos Rude Boys, Hooligan foi motivo de disputa. A composição, inicialmente creditada a Bob, é, na verdade, de Shirley Burke, uma importante jornalista e artista jamaicana.

6. Wings Of a Dove: outra gravação do Studio One, provavelmente de 1966, Wings of a Dove é um dos maiores clássicos do Ska jamaicano. Mesmo a música não sendo de Bob, vale aqui o registro da versão dos Wailers. Até hoje, Wings Of a Dove segue sendo tocada por inúmeras bandas de música jamaicana. Eu, num dos momentos mais felizes da minha vida, tive a oportunidade de cantá-la ao vivo, ao lado do Maxado, à frente dos Skatalites.

7. Bend Down Low: cansado de gravar para os outros e sem fazer dinheiro suficiente para o seu sustento, Bob cria a sua própria gravadora, a Wail N’ Soul, em 1966. Primeiro lançamento da gravadora, o single que tinha Mellow Mood como lado B, Bend Down Low não teve muito sucesso já que, mesmo naquela época, para se conseguir que uma música fosse tocada na radio, era preciso que se pagasse um “jabá”, e dinheiro, naquela época, era algo que os Wailers definitivamente não tinham.

08. Mellow Mood: lado B do single de Bend Down Low.

09. Nice Time: gravada para a Wail n’ Soul em 1967, logo após Bob voltar para a Jamaica depois de uma temporada na casa de sua mãe, nos E.U.A., Nice Time é uma das músicas de Bob mais conhecidas em seu país de origem.

10. Black Progress: apesar de não ser das minhas músicas favoritas, ela é uma das duas primeiras gravações da nova gravadora de Bob, a Tuff Gong.  Além de ter sido produzida e gravada por Lee “Scratch” Perry, Black Progress é a primeira música onde os irmãos Carlton e Aston Barrett aparecem na bateria e no baixo, respectivamente, dos Wailers. Desde 1970, quando Black Progress foi gravada, os Barrett Brothers, viriam a ser um dos pilares dos Wailers nos anos seguintes.

11. Duppy Conqueror: também produzida e gravada por Lee Perry para a Tuff Gong em 1970, Duppy (que na Jamaica significa fantasma) Conqueror, é uma das músicas mais icônicas da fase “Upsetter (apelido de Lee Perry)” dos Wailers. Segundo quem mais entende do assunto, as melhores gravações de Bob são dessa fase, que durou de 1970 a 1972. Ao longo de sua vida, Bob viria a gravar 7 diferentes versões desta música.

12. Small Axe: gravada em 1971, Small Axe é outro clássico da era Upsetter. A letra, que diz “if you are the big tree, we are the small axe. sharpened to cut you down, ready to cut you down“, conta um pouco da juventude de Bob. Apesar de sempre ter sido um garoto franzino, Bob sempre se virou para conseguir respeito nas ruas na época de rude boy. Assim como muitas outras canções de Bob, Small Axe viria a ser gravada novamente em outras ocasiões. Small Axe aparece também no disco Burnin‘, de 1973.

13. Trenchtown Rock: mesmo não tendo sido a primeira gravação do selo, Trenchtown Rock foi, em 1971, o primeiro lançamento de Bob pela Tuff Gong (Tuff Gong era um dos apelidos de Bob/0. Tuff Gong (o Gong duro, em tradução livre), faz alusão a Leonard Howell, o homem que “criou” o rastafari. Gong era um dos apelidos de Howell. Howell era o Gong; Bob o Tuff Gong . A versão que viria a se tornar mais conhecida da música foi a gravada ao vivo para o álbum Live! , em 1975.

14. Guava Jelly: uma das primeiras músicas de Bob a fazer sucesso nos E.U.A., em 1972; só que na voz do cantor americano Johnny Nash, para quem Bob escreveria outras canções.

Do álbum Catch a Fire, de 1972 (15 a 18)

catch a fire

O primeiro disco a ser gravado pelos Wailers (o contrato era que os Wailers gravariam um total de 10 discos) para a Island Records, gravadora que transformaria Bob Marley não só na maior estrela do reggae de todos os tempos, como num dos artistas mais importantes do século 20. O disco foi gravado na Jamaica pelos 3 Wailers originais (Bob, Peter e Bunny), além dos irmãos Carlton e Aston Barrett (baterista e baixista, respectivamente, da banda The Upsetters, de Lee Perry)  nos estúdios Randy’s e Dynamic (onde os Rolling Stones gravariam o seu álbum Goat’s Head Soup no ano seguinte). Na Inglaterra, Chris Blackwell, dono da gravadora, e agora novo produtor da banda, gravaria alguns overdubs e adicionaria à banda o guitarrista americano Wayne Perkins, que ficou incumbido dar ao reggae dos Wailers, um ar mais rock, ao qual o público fora da Jamaica estava mais acostumado. Na época, Perkins não só nunca havia ouvido falar dos Wailers como também jamais havia ouvido reggae na vida. Catch a Fire, (que significa pegar fogo), cuja capa reproduzia um isqueiro Zippo, foi o primeiro álbum conceito da curta história do reggae. Ele foi lançado em versões diferentes na Inglaterra e na Jamaica e hoje ambas as versões podem ser ouvidas em Catch a Fire Deluxe

15. Stir It Up: Escrita para Rita (Marley), Stir It Up é “uma obra prima do duplo sentido”. Na Jamaica, desde os tempos do Calypso “The Big Bamboo“, a palavra wood (madeira) passou a ser sinônimo do órgão sexual masculino, enquanto pot (vaso, cumbuca, pote), passou a ser referência ao órgão feminino. Mesmo tendo sigo gravada antes dos Wailers por Johnny Nash, a versão de Stir It Up gravada para o álbum Catch a Fire, é uma obra prima. Por alguma razão, Aston Barrett, não estava no estúdio quando a música foi gravada, por isso, em seu lugar, gravou o ainda adolescente época, Robbie Shakespeare.

16. Concrete Jungle: Uma das minhas músicas favoritas, Concrete Jungle também conta com Robbie Shakespeare no baixo e com um solo de guitarra de Wayne Perkins. Antes de Chris Blackwell, solos de guitarra poderiam ser descritos como a “antítese do reggae” para a maioria dos músicos. Para mim, o solo de guitarra de Concrete Jungle é o melhor de todos (das outras músicas dos Wailers). Além disso, nessa música, em especial, os backing vocals de Peter e Bunny, são, pra mim, hors-concours.

17. Slave Driver: Música que faz alusão à situação da Jamaica depois da independência da Inglaterra (occorida em 1962), que fala sobre a liberdade e que tem uma mensagem ainda contemporânea em todo o mundo: “today they say we are free, only to be chained in poverty (hoje eles dizem que somos livres, mas estamos acorrentados à pobreza)“.

18. Kinky Reggae: “Brown Sugar” (da letra da música), gíria que viria a ficar famosa depois, com os Rolling Stones,  no R&B (Rhythm & Blues), refere-se a uma mulata sexy. Uma das clássicas músicas dos Wailers com harmonia composta somente pelos acordes G e Am.

Do álbum Burnin’, de 1973 (19 a 22)

Burnin'

Algumas das músicas de Burnin’ foram gravadas nas mesmas sessões das de Catch a Fire, só que esperaram para serem lançadas em 1973. Chris Blackwell esteve presente na mix e, como já havia feito antes, adicionou alguns overdubs, aumentou o comprimento de algumas canções e criou partes instrumentais; tudo para deixar o som mais com cara de rock, com uma cara que o mundo todo, não só a Jamaica, pudesse e quisesse ouvir.

Mais do que pelas boas músicas, Burnin’ fica marcado na história como o último disco que Bob Marley, Bunny (Wailer) Livingstone e Peter Tosh,os três Wailers originais, gravariam juntos.

19. I Shot The Sheriff: Música cujo cover gravado por Eric Clapton para o álbum 461 Ocean Boulevard, em 1974, viria não só a revitalizar a carreira solo de Clapton mas também expor a música de Bob Marley a um público muito, muito maior do que Os Wailers tinham até então.

20. Burnin’ and Lootin’: Música que fala sobre as dificuldades impostas pelo “sistema” para todos aqueles que viviam nos guetos de Kingston nos anos 60 e 70 (os sufferahs – sofredores), onde eram comuns toques de recolher e protestos nas ruas. Bob diria em uma entrevista: “Babylon nuh waan peace, Babylon waan power (Babylon – o sistema, segundo os Rastas –  não quer a paz, Babylon quer a guerra) e “my songs have a message of righteousness (minhas músicas trazem uma mensagem de righteousness)“, onde righteousness, (palavra que acompanharia Bob durante toda a sua vida), mais do que simplesmente justiça, significava honradez e retidão.

21. Rastaman Chant: Outra música que adoro. É mais fácil de se imaginar Rastaman Chant sendo tocada em um Nyabingi (retiro rastafari) do que num disco de música pop. Mesmo assim, o poder dos Wailers cresceu tanto que eles conseguiram transformar um hino essencialmente religioso em uma música pop para consumo geral. A percussão, tocada por Bunny, é a tradicional batida dos rastafari, que representava a batida do coração e que permeava, junto a muita ganja (maconha), as noites de retiro dos rastas.

22. Get Up, Stand Up: Sob uma perspectiva política, Get Up, Stand Up é música mais importante de Bob. Se por um lado, ironicamente, a música foi uma das últimas que Peter Tosh e Bob Marley gravariam juntos, por outro, ela foi o motivo da única reunião que os dois tiveram após a separação dos Wailers, em um clube de Londres, onde Bob Marley e os “novos” Wailers estavam se apresentando. Segundo se conta, Bob cantava a letra da música e, como sempre ouvia a resposta, do público. Quando a banda saía do segundo refrão para entrar no terceiro verso, eis que a voz principal foi assumida por Peter que, com microfone em mãos, subiu ao palco surpreendendo a todos, inclusive Bob. Ao terminar, Peter teria dito “the queen feel dat one deh” (algo do tipo “até a rainha sentiu essa), passado o microfone de volta para Bob e saído da mesma forma que entrou. Os dois nunca mais tocariam juntos.

Do álbum Natty Dread, gravado em 1974 e lançado em 1975 (23 a 27)

natty dread

Natty Dread é o terceiro disco dos Wailers pela Island Records; o primeiro sem Peter e Bunny. Dali para frente, a banda passaria a se chamar Bob Marley & The Wailers. Segundo Aston “Family Man” Barrett, o disco foi inspirado no som de James Brown. O disco conta com as guitarras do americano Al Anderson e, com a entrada de músicos que, nos anos seguintes, seriam parte da identidade da banda: o tecladista Tyrone Downie e as backing vocals I-Threes (Rita Marley, Judy Mowatt e Marcia Griffiths)

23. Lively Up Yourself: uma das músicas mais “irie” de Bob (irie – se diz aire – era como os rastas diziam se sentir quando estavam contentes) , Lively Up Yourself era uma música obrigatória nos shows da banda. Como poucas outras canções dos Wailers, Lively Up Yourself tinha a capacidade de fazer com que o público fosse ao delírio.

24. Them Belly Full (But We Hungry): música que diz que “ainda que a nossa barriga esteja cheia, temos fome de respeito e de amor” e que “enquanto estivermos com fome, estaremos bravos” (a hungry man is an angry man).

25. Rebel Music (3 O’clock Roadblock): música que fala sobre as barricadas e barreiras policiais, que eram muito comuns na Jamaica nos anos 70 e 80. Passando por uma delas, Bob e Esther Anderson, uma de suas namoradas na época, sofreram para ser liberados, o que serviu de inspiração para a composição. Mais até do que representar esse acontecimento, os Roadblocks (barreiras policiais) simbolizam as dificuldades que os jovens pobres dos guetos tinham que enfrentar para chegarem a qualquer lugar.

26. Talkin’ Blues: Bob Marley teve muito pouco contato com seu pai, por isso é interessante como nessa música, ele parafraseia algo do qual seu pai sempre se lamentava “cold ground was my bed last night and rock was my pillow too (o chão frio foi minha cama na noite passada e uma pedra foi o meu travesseiro)”. Como é comum em outras músicas de Bob, uma mensagem de protesto “I feel like burning a church (sinto vontade de queimar uma igreja)”, amaciada por uma doce melodia.

27. Natty Dread: lançada primeiramente como Knotty Dread, o nome da música significa “dread embaraçado”. Os dreadlocks, ou simplesmente dreads, são os cachos de cabelo dos rastas. Para eles, os dreads eram uma identidade da cultura negra africana, que não era uma imposição da cultura branca ocidental. Os dreads sempre foram motivo de orgulho para os rastas, que também eram conhecidos por Natty Dreads. Por isso mesmo, os dreadlocks nunca foram bem vistos na Jamaica. Era muito comum que rastas tivessem seus dreads cortados em batidas policiais (ainda que eles não tivessem cometido crime algum). Até os anos 90 as crianças jamaicanas ainda eram proibidas de ter dreadlocks nas escolas públicas.

28. No Woman No Cry (do álbum ao vivo Live!): uma das mais importantes de Bob, a música conta sobre os dias em que ele, ainda jovem, vivia perto do Government Yard, em Trenchtown (provavelmente a favela mais famosa de Kingston). Apesar da dificuldade, Bob cantava que tudo ficaria bem. A composição é de Bob, que para fugir de questões autorais, creditou a música a Vincent Ford (o Tartar – amigo de Bob). Georgie, que na letra da música “would make the fire light (manteria o fogo aceso), era um dos amigos de Bob que sempre cuidou de Bob e Rita. A versão ao vivo que coloquei aqui foi gravada no Lyceum, de Londres e é, a meu ver, muito mais antológica do que a versão de estúdio.

Do álbum Rastaman Vibration, de 1976 (29 a 34)

rastaman vibration

Álbum que, de acordo com Chris Blackwell ” foi uma tentativa consciente de penetrar no mercado negro americano”, Rastaman Vibration foi lançado em um ano de caos político na Jamaica. Naquele mesmo ano, dias antes de um concerto beneficente idealizado por Bob, o Smile Jamaica, Bob e pessoas da sua equipe sofreriam um atentado a tiros, o que levaria Bob e os Wailers a “fugirem” da Jamaica e irem morar na Inglaterra por 2 anos.

29. Positive Vibration: se existe uma frase que captura o clima dos primeiros tempos dos rasta, essa frase é, sem dúvida “positive vibration”. Todos os shows de reggae dos anos 70, fossem eles de Bob Marley, Bunny Wailer, Third World ou até mesmo do controverso Peter Tosh, vinham com uma garantia de uma experiência positiva e alto astral, para nunca mais ser esquecida. Como Bob explicou, “Positive Vibration… that’s reggae music” (vibração positiva… isso é o reggae).

30. Roots, Rock, Reggae: um termo popular naquele tempo, roots, rock, reggae significava nada mais do que o belo groove introdutório de um reggae. Para Bob, não se podia deixar as raízes de lado. A raiz do rastafari é a Africa. O rock, comum mas erroneamente dito como referencia à música, refere-se à Jamaica (the rock – cuja tradução significa a rocha –  era como muitas pessoas se referiam à Jamaica); o reggae representa a união dos dois.

31. Crazy Baldhead: baldhead, na Jamaica, era uma gíria para qualquer pessoa que tinha os cabelos cortados curtos. Para os Rastas, os baldheads representavam o governo, a opressão,o sistema, enfim tudo o que se opunha aos dreads. Música garantida em praticamente qualquer show da vida de Bob, Crazy Baldhead conta com um dos vocais mais emocionados de toda a carreira do cantor.

32. Who the Cap Fit: música que fala sobre a hipocrisia na Jamaica, Who The Cap Fit a letra diz “your worst enemy might be your best friend and your best friend might be your worst enemy” (seu pior inimigo pode ser o seu melhor amigo e o seu melhor amigo pode ser o seu pior inimigo).

33. War: em War, as palavras de Haile Selassie I, imperador da Etiópia (considerado pelos rastas como um deus vivo, como o messias), proferidas em um discurso na sede das Nações Unidas em 1968, são transformadas em música. “Until the philosophy which holds one race superior and another inferior is finally and permanently descredited and abandoned, everywhere is war” (enquanto a filosofia que dita que uma raça é superior e outra é inferior não for permanentemente desacreditada e abandonada, em toda parte haverá guerra).

34. Rat Race: rat race (que em tradução livre significa corrida de ratos) é uma expressão que designa a vida selvagem de competição e a luta para conseguir riqueza e poder, principalmente no mundo dos negócios e no comércio. A canção remete ao tempo em que Bob trabalhou na planta da Chrysler (quando viveu em Wilminton, nos E.U.A. com sua mãe). Além disso, ela fala sobre a impermanência das coisas, fazendo referências a “peace and safety (paz e segurança)” e “sudden destruction (destruição súbita)” e deixa claro que “rastas don’t work for no CIA (rastas não trabalham para a CIA)”. Depois da morte de Bob, seria revelado que a CIA (agência de inteligência americana) monitorou a vida e os passos de quem eles definiam como o “reggae star” (estrela do reggae), por muitos anos.

35. Jah Live: lançada como single, Jah Live foi escrita provavelmente em 1975 (época em que também foram escritas muitas das canções de Rastaman Vibration), quando da morte de Haile Selassie I. Frente à questão filosófica rastafari com relação à morte de Deus, Bob afirma através dessa música que Deus jamais morre. “Dem on the news say that our God is dead. But y’know, dem don’ understan” (nas notícias diz-se que nosso deus está morto. Mas, você sabe… eles não entendem). Jah (nome pelo qual os rastas se referem a Deus) Live, em tradução livre, significa Jah vive.

36. Smile Jamaica: também lançada como single mais ou menos na mesma época de Jah Live, Smile Jamaica foi escrita por Bob a pedido de Michael Manley (presidente da Jamaica), para gerar algum otimismo frente a eleições nacionais que viriam a acontecer em 1976. Bob sempre tentou fugir de questões políticas, por isso a letra da música diz somente “smile, you’re in Jamaica” (sorria, você está na Jamaica).

Do álbum Exodus, de 1977 (37 a 44)

exodus

Eleito pela revista Time, em 1999, como o álbum mais importante do século XX, Exodus é o meu disco favorito (e de muitos outros fãs também) dos Wailers. Para mim, todas as músicas do disco poderiam figurar nesse playlist. Foi difícil deixar umas de fora.

Gravado em Londres em um período em que os Wailers viveram um auto exílio (em função do atentado a tiros contra a vida de Bob corrido na Jamaica), o disco é o primeiro dos Wailers que conta com Junior Marvin na guitarra. Dali por diante, Junior viria a ser a principal estrela da banda depois de Bob.

37. Natural Mystic: natural mystic era como Bob chamava a “mágica” espiritualidade da Jamaica. Terra de muitas culturas (a africana, a americana e a européia) e de muitas religiões (a pocomania – uma religião africana, algumas formas de cristianismo, além de uma forte cultura indiana), a mágica jamaicana se fazia sentir de diversas formas. Segundo Bob, “who feels it knows it (quem sente sabe)”. Muitos artistas, como os Rolling Stones, Stevie Wonder e Sting, viriam à ilha em busca dessa inspiração.

38. The Heathen: música de Bob onde a guitarra de Junior Marvin mais se faz presente. Heathen (infiel) é um dos piores xingamentos que uma pessoa pode receber na Jamaica, um país onde mesmo antes do rastafarianismo, a religiosidade sempre foi muito evidente. The Heathen é uma canção autobiográfica, na qual Bob se defende por ter fugido (da Jamaica depois do atentado contra a sua vida). Segundo Bob “se afastar é uma tática, não um ato de covardia“. Na canção ele clama para que os guerreiros vencidos voltassem à posição de guarda (rise up fallen fighters, rise and take your stance again). Quase um mantra, The Heathen é um hino preparatório não só para a batalha mas para a vitória.

39. Exodus: definido por Bob como o título para o álbum antes mesmo de a música ter sido escrita, Exodus reflete o momento vivido em 1976 / 77 por Bob, que havia sido forçado a deixar a Jamaica por conta do atentado contra a sua vida. Exodus foi o primeiro single de Marley a ser tocado nas radios de black music nos Estados Unidos e foi principalmente a partir daí que Bob passou a ser reconhecido como um superstar também lá. Exodus é a primeira música da história onde um vocoder (sintetizador que usa a voz humana para produzir sons) foi usado (por Tyrone Downie).

40. Jamming: Lançada como um single em 1977, Jamming é uma das poucas músicas de Bob que consegue ter um tema religioso e ser dançante ao mesmo tempo. Talvez por isso é que Jamming era a música favorita de Bob para passagens de som. Jamming é a música que Bob cantava enquanto viveu um dos momentos mais memoráveis de sua vida. No One Love Peace Concert (em 22/04/1978), Bob conseguiu que Michael Manley (primeiro ministro da Jamaica na época) e Edward Seaga (principal político da oposição) dessem as mãos em prol da paz e da união.

one love

41. Waiting In Vain: provavelmente a música de amor mais conhecida de Bob, segundo pessoas próximas, Waiting in Vain teria sido escrita para Cindy Breakspeare (Miss Mundo em 1976). Na época em que a canção foi escrita, Cindy ainda não era namorada de Bob, mas, dali por diante, os dois manteriam um relacionamento amoroso até a morte do cantor. Em 1978 Cindy viria a dar um filho, Damian, a Bob.

42. Turn Your Lights Down Low: a outra canção de amor do álbum, também escrita para Cindy. Sobre as canções de amor, Bob chegou a dizer: “ten, twelve years me a sing. Am I gonna sing about agression and frustration and captivity an all dem t’ing? (há dez, doze anos eu canto. Será que cantarei somente sobre agressão, frustração e cativeiro e tudo isso?)”. O revolucionário Bob sabia bem que mesmo os melhores guerreiros precisavam de momentos de amor para recuperar as energias.

43. Three Little Birds: música escrita em Hope Road (famosa casa onde Bob morava em Kingston, que hoje abriga o seu museu). Conta-se enquanto Bob e sua entourage enrolava seus baseados, 3 pombos sempre vinham à porta da casa, interessados nas sementes que eram descartadas.

44. One Love / People Get Ready: gravada originalmente em 1965 para Coxsone Dodd, One Love / People Get Ready contem, talvez, a mensagem mais importante de Bob: “one love, one heart, let’s get together and feel alright (um amor, um coração, estejamos juntos e nos sentiremos bem). Várias versões da música foram gravadas por Bob e, em muitas delas, pode-se ouvir alguns trechos de da canção People Get Ready. A música, também de 1965 é um hino por direitos iguais, composta pelo cantor e compositor americano Curtis Mayfield e gravada por The Impressions (trio vocal de Curtis Mayfield – um dos preferidos de Bob).

45. Punky Reggae Party: produzida e gravada por Lee Perry e lançada como o Lado B do single de Jamming, Punky Reggae Party, conta com Sly Dunbar (que ficou famoso ao lado de Robbie Shakespeare) na bateria, além de músicos do grupo de reggae inglês Aswad. A música foi escrita como uma resposta positiva à gravação de Police and Thieves (cuja versão original é do jamaicano Junior Murvin) pela banda de inglesa de punk rock The Clash. Enquanto vivia em Londres, Bob se identificava com os punks, que assim como ele, lutavam contra o sistema. Os punks, por sua vez, também se identificavam com o reggae e com Bob. Na música, bob canta “”The Wailers will be there, The Damned, The Jam, The Clash – Maytals will be there, Dr. Feelgood too (os Wailers estarão lá – na festa reggae punk – o The Damned, o The Jam, o The Clash – os Maytals estarão lá e o Dr. Feelgood também)”.

46. Keep On Movin’: a versão da música que coloquei aqui foi gravada em 1977 , por Lee Perry, na mesma sessão de Punky Reggae Party. A primeira vez que Bob gravou Keep on Movin’ foi em 1971, também para Lee Perry. A música é um cover de I Gotta Keep On Moving, de Curtis Mayfield, gravada pelo seu grupo The Impressions no álbum The Never Ending Impressions, de 1964.

Do álbum Kaya, de 1977 (47 a 52)

kaya

 

Considerado um dos discos mais comerciais de Bob, Kaya compreende canções bem alto astral, onde Bob canta sobre outras duas grandes paixões de sua vida: a maconha (aliás, kaya é, na Jamaica uma das gírias para maconha) e as mulheres. Gravado quase em simultaneidade com Exodus, Kaya é o disco favorito de Chris Blackwell. Segundo Bob, apesar de antever que os seus fãs o criticariam por fazer um disco mais “soft”, Bob queria fazer algo diferente. Segundo ele “um artista tem que liderar o seu público e não segui-lo”. Em outra ocasião, ao defender Kaya, Bob disse que “possivelmente, se ele tivesse feito um disco mais pesado do que Kaya, ele teria sido assassinado”. O sucesso da turnê mundial para promoção do álbum resultaria na gravação do álbum ao vivo Babylon by Bus.

47. Easy Skanking: skanking é um tipo de dança lenta, que é experimentada em sua plenitude quando se está sob efeitos da erva. Por algum tempo, nos anos 70, era como se toda a Jamaica estivesse “skanking“. A letra da música conta como Bob, com ajuda de seus spliffs (baseados), se afastava da realidade.

48. Is This Love?: escrita para Cindy Breakspeare assim que Bob a conheceu. Ainda adolescente, Cindy e seu irmão alugavam de Chris Blackwell um quarto em Hope Road (casa de Bob). Segundo Cindy, “um dia eles pararam para conversar e assim foi…” Is This Love? chegou a ter um videoclipe gravado. Nele, Bob curte uma festa de crianças. Entre elas, ainda com 9 anos, pode-se ver Naomi Campbell.

49. Kaya: originalmente gravada em 1971, Kaya é outra música de Bob que recebeu diferentes versões.  A canção conta como a erva (sendo que a Lambsbread e a Jerusalembread eram as suas favoritas) ajudava Bob a sobreviver aos dias chuvosos.

50. Satisfy My Soul: outra das música gravada para Lee Perry no começo dos anos 70, a Satisfy My Soul chegou a ter nomes diferentes, como I Like It Like This e Don’t Rock My Boat. Apesar de no álbum o crédito da composição ser dado somente a Bob, a música foi escrita por Bob e Perry. Inclusive, Perry viveria desavenças constantes com a Island Records por conta de questões autorais.

51. Running Away: uma das músicas mais simples e emblemáticas de Marley, Running Away pode ser interpretada em diferentes níveis. Bob contava que teve uma premonição com relação ao atentado contra a sua vida. Ele anteveu que ele aconteceria mas, em sua visão, era pedido que ele não fugisse. Ter ficado quieto enquanto o atentado aconteceu acabaria salvando a sua vida. Depois do atentado, em exílio, Bob refletia sobre o principal obstáculo de “se escapar”: “you’re running and you’re running and you’re running away, but you can’t run away from yourself (você pode escapar, pode escapar e você pode escapar, mas você não pode fugir de você mesmo)”.

52. Time Will Tell: escrita por Bob e Family Man Barrett em Nassau (ilha do caribe onde Bob e os Wailers ficaram por algum tempo antes de Chegar em Londres após o atentado), a música é a mais séria do álbum. Family Man, que foi o responsável também pela gravação, além de tocar o baixo, toca o piano. A música fala do sentimento momentâneo de Bob com relação ao seu país natal: “you think you’re in heaven but you’re living in hell (você pensa que está no paraíso mas está vivendo no inferno)”.

Do álbum Survival, de 1979 (53 a 59)

Survival_Album

Survival é o álbum mais militante de Bob Marley. No álbum não foi incluída nenhuma canção de amor. Muitos especulam que a principal razão para o álbum ter adquirido estas características foi o fato de que Kaya, o disco anterior, que era mais meloso, ter recebido críticas negativas por ter deixado “a mensagem” de lado. A verdade é que, além disso, muitas das músicas de Survival foram escritas na Africa, em uma viagem que Bob fez em 1979 para Shashamani (uma colônia de rastas jamaicanos que emigraram para a Etiópia acreditando ser ela a terra prometida).

Originalmente, Survival era para se chamar Black Survival, de forma a expor a urgência pela união da África mas o nome acabou sendo encurtado para evitar más interpretações quanto ao seu significado. Marley, originalmente, previa que Survival seria parte de uma trilogia, que conteria também os discos Uprising, de 1980 e Confrontation (póstumo), de 1983.

53. So Much Trouble In The World: a música de Bob preferida de Chris Blackwell. Nela, mais de uma vez, Marley fala de ilusão. Segundo ele, sua missão era abrir os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos e mostrar para eles que a única maneira de se seguir adiante era enfrentando os problemas, e não se escondendo da verdade. “First thing: you cannot be ignorant (primeira coisa: você não pode ser ignorante)”, ele dizia.

54. Zimbabwe: Ao contrário do que comumente se diz, a música não foi escrita exclusivamente para a celebração da independência do Zimbabwe, que deixava de ser colônia da Inglaterra (abril de 1980). Zimbabwe foi uma das músicas escritas por Bob na África, um ano antes, em sua visita a Shashamani.Bancando todas as despesas por conta própria, Bob Marley e os Wailers tocaram em Harare (capital do novo país), na festa de independência, e foram ouvidos por mais de 15.000 pessoas, entre as quais estavam Robert Mugabe, o presidente do novo país e o príncipe Charles, da Inglaterra.

55. Survival: Música título do álbum, em Survival Bob responsabiliza o governo pelo sofrimento de seu povo. “Se o governo se importasse, o povo não teria que sofrer“, cantava ele. Na música, Bob canta que ser negro é sinônimo de ser sobrevivente.

56. Africa Unite: Africa Unite é uma música que concretiza algo que o Bob disse muitas vezes ao longo de sua vida: “minha mensagem é para o mundo todo, mas o meu coração é a Africa. Mais do que tudo, ele dizia, o seu sonho era ver a reunificação dos estados separados de sua terra natal ancestral. Apesar da mensagem de Bob e de seu esforço para falar para uma população negra, o público que o assistia nos shows, principalmente nos E.U.A., era composto quase que 85% por brancos.

57. One Drop: o nome da música é referência a um dos 3 ritmos mais importantes do reggae, o One Drop Rhythm, inventado e frequentemente tocado por Carly Barrett, na bateria dos Wailers. One Drop é outra música de Bob onde uma mensagem de protesto e uma doce melodia são balanceadas de maneira perfeita.

58: Ride Natty Ride: nessa música, Marley canta sobre a sua sobrevivência e, em uma interpretação mais abrangente, sobre a sobrevivência dos rastas frente a uma total rejeição social. A música termina com o que é provavelmente uma referência à destruição que teria tomado conta da cidade jamaicana de Port Royal (capital mundial da pirataria) em 1692. Metaforicamente, Port Royal representa a Kingston da época de Bob e a visão apocalíptica dos rastas quanto ao seu eventual fim.

59: Ambush In The Night: mais uma música cujo tema é o atentado sofrido por Bob em 1976. Ambush In The Night fala sobre uma das peculiaridades do acontecido: os homens que atentaram contra a sua vida eram conhecidos dele. Bob viria a dizer em uma ocasião que a experiência do atentado foi “boa” e, afinal de contas, “ninguém havia morrido”.

Do álbum Uprising, de 1980 (60 a 66)

uprising

Terminado em 1980, Uprising é o último disco de Bob lançado enquanto ele ainda era vivo. Parte gravado na Inglaterra, parte na Jamaica, Uprising é, de todos os discos gravados para a Island Records, o mais religioso. Nesse disco, Bob endereça assuntos basicamente ligados ao rastafari. Uprising chegou a figurar entre os 10 mais vendidos na Inglaterra quando do seu lançamento e a música Could You Be Loved, que também foi lançada como single, chegou ao número 5 das paradas.

60. Coming In From The Cold: a princípio, a música (cuja tradução é vindo do frio) fala do prazer de se chegar na quente Jamaica vindo do frio (da Inglaterra, por exemplo). Mesmo parecendo superficial, a música clama para que todos, de todos os lugares, lutem por direitos iguais.

61: Real Situation: nessa música, onde Bob questiona os caminhos do homem e da sociedade. Prevendo o futuro, Bob conclui a música com uma das frases que viriam a ser mais repetidas nas rádios jamaicanas nos anos 80: “well it seems like total destruction the only solution (parece que a destruição total é a única solução)”.

62. Bad Card: outra das minhas músicas favoritas de Bob, Bad Card era uma gíria da época, que significava que alguém estava atrás de você (a sua caça). Hope Road, a famosa casa de Bob em Kingston, que ficava em Uptown (parte rica de Kingston), era rodeada por pessoas da alta sociedade, que cansadas da bagunça e do barulho de Bob, reclamavam constantemente. Na música, em que Bob avisava que não seria tão fácil tirá-lo de circulação, ele cantava “i want to disturb my neighbor cause I’m feeling so right (quero perturbar meu vizinho, pois me sinto muito bem)”.

63. Zion Train: para os rastas, Zion (Sião) é o destino final. Em termos metafísicos, Zion representa o céu. Em termos físicos, a Africa. Para os rastas (cuja religião tinha bases na bíblia), a terra prometida era a promessa de um futuro melhor. Zion Train (o trem para Sião) era o caminho para a redenção.

64. Could You Be Loved: por incrível que pareça, Could You Be Loved, música que, entre as demais do álbum, chegaria ao lugar mais alto das paradas, não estava na lista original de músicas que compunha Uprising. A música, assim como Coming In From The Cold, só viria a ser gravada depois que Cris Blackwell disse que achava que o álbum estava muito lento. Could You Be Loved, que a princípio parece uma música de amor, é na verdade, um comentário de Bob sobre o mal de Babylon.

65. Redemption Song: gravada originalmente com toda a banda tocando (essa gravação pode ser ouvida na edição Uprising Remastered, de 2001), a versão acústica que é hoje uma das músicas mais famosas de Bob foi gravada por insistência de Cris Blackwell e Errol Browne (engenheiro de som), a contragosto de Bob. Segundo ele, “me is not a big singer like Luther Vandross (eu não sou um grande cantor como Luther Vandross)”. Realmente, a versão com banda não tem, nem de longe, o sentimento da versão acústica.

66. Work: a última música que Bob Marley tocaria ao vivo em seu último show, em 23 de setembro de 1980, em Pittsburgh. Work fala da importância que o trabalho tem para os verdadeiros rastas, não só como caminho para a sobrevivência mas também manutenção da ética, da honra e da boa conduta religiosa (righteousness).

Do álbum Confrontation, de 1983 (67 a 69)

Confrontation

 

Lançado em 1983, Confrontation é um disco póstumo dos Wailers. As canções do álbum foram compiladas a partir de material inédito e de singles gravados ao longo da vida de Bob. Muitas delas ainda não estavam prontas quando Bob morreu e foram terminadas por Chris Blackwell e Family Man Barrett. A capa do disco (que para mim é a mais bonita de todas) é uma ilustração de Neville Garrick (um dos melhores amigos de Bob e responsável não só por capas de outros discos do cantor como também da cenografia de muitos shows) e faz referência à história de São Jorge e o Dragão. O dragão, que estaria sendo morto por Bob Marley e sua música representava Babylon, mais uma vez.

67. Chant Down Babylon: Chamada inicialmente de “I Believe In Reggae Music”, a música foi composta na Bélgica, enquanto Os Wailers estavam em turnê promovendo o álbum Survival. Originalmente prevista para figurar no álbum Uprising, mas que acabou ficando de fora, Chant Down Babylon, junto com Buffalo Soldier, é para mim a melhor música do álbum.

68. Buffalo Soldier: A música, cujo crédito da composição é divivido entre Bob e King Sporty (um amigo de Bob e músico da época do Studio One), é uma ideia coletiva dos Wailers. Segundo Family Man Barrett, foi King Sporty quem completou a composição e a trouxe para os Wailers, em Miami. Segundo ele, a música parecia um hip hop. Depois de rearranjada, Buffalo Soldier viraria um dos maiores sucessos da banda. A letra da música compara os Rastas aos Buffalo Soldiers, que foram soldados negros americanos que receberam medalhas de honra por lutarem por 25 anos contra os índios, na época da guerra da secessão. “Stolen from Africa, brought to America (roubados da Africa, trazidos para a América)”. “Fighting on arrival, fighting for survival (lutando ao chegar, lutando pela sobrevivência)”.

69. Mix Up Mix Up: Encontrada por Rita Marley após a morte de Bob em uma fita onde, por 25 minutos, Bob fazia uma uma jam com seu violão e uma bateria eletrônica, Mix Up Mix Up foi editada e terminada por Errol Brown (engenheiro de som dos Wailers). Mesmo perceptivelmente inacabada (parte da letra parece não fazer muito sentido), a melodia da música é tão boa que possivelmente ela poderia ter saído como um single, caso tivesse sido terminada por Bob.

70. Iron Lion Zion: Provavelmente escrita em 1973 ou 1974, Iron Lion Zion permanecia inacabada e só foi terminada após a morte de Bob. Lançada somente em 1992, na caixa Songs of Freedom, a música foi deve ter sido “atualizada” ao longo da vida do cantor, uma vez que ela cita o atentado à sua vida e as guerras tribais africanas, eventos que aconteceriam anos depois de 1974.\

 

Fontes:

Este trabalho é o resultado de anos de pesquisa, feitas por nenhuma outra razão que o meu próprio interesse e prazer.

Para a realização desse post foram consultados os seguintes livros:

This Is Reggae Music – The Story Of Jamaica’s Music – Lloyd Bradley

The First Rasta: Leonard Howell and the Rise of Rastafarianism – Helen Lee

Catch a Fire – Timothy White

Bob Marley: The Untold Story – Chris Salewicz

The Book Of Exodus – The Making and the Meaning of Bob Marley & The Wailers’ Album of the Century – Vivien Goldman

Bob Marley – The Stories Behind Every Song – Maureen Sheridan

The Bible and Bob Marley: Half The Story Has Never Been Told –  Dean MacNeil

 

Além dos livros, consultei os seguintes sites:

Wikipedia

Rocklist.net

Wailer.de

Jason Brecht Music Archive

Bobmarley.com

 

Clipes Incríveis: Peter Gabriel - Sledgehammer

Sledgehammer, música do álbum So, de 1986, de Peter Gabriel é um dos clipes que mais marcou a minha vida. Em 1987, quando ele foi lançado, eu tinha 11 anos. Ainda não havia Mtv no Brasil mas a gente podia ver video clipes em alguns programas espalhados pelos poucos canais de tv que tínhamos na época.

Como não lembrar do programa Clip Trip, que passava na Tv Gazeta?

E não tinha mesmo como esse clipe passar desapercebido. Não só por mim mas por milhões de pessoas em todo o mundo.

Sledgehammer, a música, chegou ao topo das paradas dos E.U.A. e do Canadá e ao número 4 da Inglaterra.

O Clipe de Sledgehammer, que ganhou 9 VMAs em 1987 (recorde até hoje) e é até hoje o clipe mais exibido pela MTV, foi dirigido por Stephen R. Johnson. Johnson, que a princípio não tinha gostado da música (para ele Sledgehammer era apenas mais uma música de branco que tentava soar como música de negro), havia dirigido o clipe de Road To Nowhere, do Talking Heads, um ano antes.

A animação de massinha, o stop motion, e a pixelização características do clipe são obra de Aardman Animations, estúdio que viria a ficar famoso depois com trabalhos como Wallace & Gromit e Fuga das Galinhas

Se o clipe de Sledgehammer pode ser considerado inovador em 2015, imagina em 1987!

Aproveite e assista aqui à SoS tocando a música Sledgehammer. O vídeo, que foi dos primeiros que fizemos, foi gravado em um evento na Estação São Paulo, em 2009.

 

Fontes: Revista Time, Wikipedia e site Songfacts

Inspirações: Stephen Hawking e Pink Floyd

Speech has allowed the communication of ideas, enabling human beings to work together to build the impossible. Mankind’s greatest achievements have come about by talking and it’s greatest failures by not talking. Our greatest hopes could become reality in the near future. With the technology at our disposal, the possibilities are unbounded. All we need to do is make sure we keep talking“.

A fala possibilitou a comunicação de idéias, permitindo aos seres humanos trabalhar juntos para construir o impossível. As maiores realizações da humanidade se deram pela fala e os maiores fracassos se deram pela falta dela. Nossos maiores desejos podem se tornar realidade em um futuro próximo. Com a tecnologia a nossa disposição, não existem fronteiras para as possibilidades. Tudo o que precisamos fazer é nos assegurarmos de seguir falando“.

– Stephen Hawking

O texto acima, que tomei a liberdade de traduzir, é de autoria de Stephen Hawking, um dos maiores físicos do nosso tempo e portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA). Expresso através de sintetizador de voz, já que Stephen perdeu a capacidade de falar em 1985, o texto pode ser ouvido na música Talkin’ Hawkin, faixa do último disco do Pink Floyd, intitulado The Endless River.

The_Endless_River_-_Pink_Floyd_-_2014

Lançado em 10 de novembro de 2014, o disco é baseado em sessões excluídas do disco anterior da banda, o The Division Bell, de 1994, e contém várias contribuições do tecladista Richard Wright, membro original da banda, falecido em 2008. Aliás, vale lembrar pra quem não sabe, que já no The Division Bell, Hawking havia participado de uma música que, não por coincidência, se chama Keep Talking.

Pink_Floyd_The_Division_Bell_1994

Na minha opinião, The Endless River não é o melhor disco do Pink Floyd mas ainda assim, Pink Floyd é Pink Floyd.

Resolvi escrever esse post, ao som dessa banda inigualável, para celebrar a vida de Hawking, que passei a conhecer de maneira mais profunda graças ao bom filme A Teoria de Tudo, de 2014 e ao documentário auto-biográfico Hawking, produzido pelo canal PBS em 2013.

É irônico que quem viveria somente mais 2 anos após a descoberta da doença tenha passado a sua vida inteira estudando justamente o tempo.

Se Pink Floyd é uma inspiração para todos que gostam de música, Stephen Hawking deve ser uma inspiração para todos que gostam da vida!

Para terminarmos esse post, não vejo música mais adequada do que Time, clássico do Pink Floyd, tocada ao vivo pela banda no Royal Albert Hall, em Londres, em 2006.

Espero que vocês curtam!

 

Peixe

 

Fonte: Wikipedia,